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A TRADIÇÃO PSICANALÍTICA – Justiça Social e Activismo Comunitário
No decorrer da ultima década do séc. XIX, Sigmund Freud, inquieto e insatisfeito com os métodos terapêuticos tradicionais disponíveis à época para aliviar os pacientes das angústias de que padeciam, experimenta e desenvolve novos rumos de investigação, entendimento e intervenção que levariam à criação, em 1896, da Psicanálise. A adopção da situação psicanalítica, o encontro regular e a escuta do paciente sobre o primado da associação livre – em detrimento do uso da hipnose, electrocussões e demais tratamentos – permitiria a Freud estudar os processos do funcionamento da mente. Ao longo de um amplo trabalho clínico, descobriria o inconsciente, o conflito, o recalcamento, a resistência, a transferência, a sexualidade infantil e o simbólico como elementos centrais da condição humana e implementaria o encontro psicanalítico como fonte de conhecimento e mudança na existência de pessoas emocionalmente atormentadas, desalentadas ou com dificuldades no Viver.
Nos anos que se seguiriam à Primeira Grande Guerra, através de um conjunto de conferências e artigos, Freud promoveria o activismo comunitário no seio do movimento, afirmando que:
“…é possível prever que, mais cedo ou mais tarde, a consciência da sociedade despertará, e lembrar-se-á de que o pobre tem exactamente tanto direito a uma assistência à sua mente, quando o tem, agora, à ajuda oferecida pela cirurgia, e de que as neuroses ameaçam a saúde publica não menos do que a tuberculose, de que, como esta, também não podem ser deixadas aos cuidados impotentes de membros individuais da comunidade. Quando isto acontecer, haverá instituições ou clínicas de pacientes externos, para as quais serão designados médicos analiticamente preparados, de modo que os homens que de outra forma cederiam à bebida, mulheres que praticamente sucumbiriam ao seu fardo de privações, crianças para as quais não existe escolha a não ser o embrutecimento ou a neurose, possam tornar-se capazes, pela análise, de resistência e de trabalho eficiente. Tais tratamentos serão gratuitos. Pode ser que passe um longo tempo antes que o Estado chegue a compreender como são urgentes esses deveres. As condições actuais podem retardar ainda mais esse evento. Provavelmente essas instituições iniciar-se-ão graças à caridade privada. Mais cedo ou mais tarde, contudo, chegaremos a isso.” (Freud, 1918, p.180-181)
Nos anos 20 e 30 do séc. XX, o movimento psicanalítico internacional, respondendo ao apelo de universalização do tratamento analítico de Freud e reconhecendo as dificuldades de sustentabilidade económica de uma terapia psicanalítica, mobilizou-se para dar corpo a uma rede de clínicas psicanalíticas, concebidas para prestar serviços àqueles que, por motivos económicos, não teriam a possibilidade de recorrer a um tratamento a custos normalmente praticados em consultório privado. Nasceriam assim os Ambulatorium, clínicas gratuitas ou de baixo custo, em Viena, Berlim, Budapeste, Zagreb, Moscovo, Frankfurt, Trieste e Paris.
A ética inerente a estas clínicas era a de uma prática ao mais alto nível de profissionalismo e seriedade, idêntica à que seria de esperar nos serviços privados. Era dada particular atenção à formação continuada dos seus psicoterapeutas através de conferências clínicas de analistas experientes, grupos de discussão, supervisões e observação infantil, entre outros eventos formativos.
A viabilidade destas clínicas assentava no voluntarismo dos analistas e na sua disponibilidade para contribuir financeiramente para a sua manutenção. O próprio Freud fez donativos consideráveis para estes invulgares empreendimentos.
A chegada da Segunda Grande Guerra e as mudanças geopolíticas delas emergentes viriam a ditar o encerramento da maioria destes serviços. Partindo de Freud, o movimento psicanalítico continuou a evoluir e a desenvolver-se. Contudo, e apesar de ao longo do último século a psicanálise ter demonstrado ser um instrumento de investigação fundamental para o conhecimento da mente humana e o seu uso terapêutico comprovar que os pacientes conseguem libertar-se de angústias desnecessárias e incapacitantes, a concepção e construção de soluções para promover a sua acessibilidade pela população em geral tem sido insuficiente.
No momento actual, no qual os problemas de justiça social persistem e se agravam, a actualização desta tradição de índole social parece de novo incontornável como um meio de vitalizar a prática da psicoterapia psicanalítica e da psicanálise junto daqueles que dela necessitam e que dela podem beneficiar.
A Clínica Social APPSI abraça esta tradição e actualiza-a, disponibilizando consultas pro bono ou a preço reduzido, de acordo com as possibilidades reais de cada um que nos procura.