A Psicanálise Relacional ao mais alto nível. A recuperação do diálogo Psicanalítico Ibérico. O 1º Congresso Ibérico de Psicanálise Relacional. Razões que se bastam a si próprias para emoldurar a grande expectativa em torno deste encontro singular, como tem sido característica da APPSI e IARPP-Portugal, dedicado às “Transformações” na clínica Psicanalítica. Para vislumbrar um pouco do que por lá se vai passar, fomos falar com alguns dos principais oradores, aos quais colocámos as mesmas perguntas.
Psicoterapeuta; Co-Fundador e Presidente do Instituto de Psicoterapia Relacional (Madrid); Co-Fundador e Secretário do Conselho Directivo da IARPP – Espanha.
1. O que espera do 1º Congresso Ibérico de Psicanálise Relacional, que vai ter lugar em Cáceres?
Penso que este congresso pode assumir-se como uma grande ocasião para impulsionar o desenvolvimento da Psicanálise Relacional nos países do Sul da Europa e também para estreitar as relações entre as nossas duas comunidades profissionais, tão perto mas, por vezes, tão longe. Em conjunto, formamos um grupo significativo de profissionais da Psicanálise Relacional que pode alcançar um importante relevo internacional, graças à nossa união, e melhorar a nossa prática clínica.
2. Qual a relevância de falar em “Transformações” no contexto Psicanalítico actual?
A Psicanálise Relacional supõe uma mudança radical de paradigma dentro da Psicanálise, desde um modelo intrapsíquico até uma concepção externa e relacional. Esta mudança supõe uma tremenda reorganização e modificação dos postulados da Psicanálise, algo que até agora só foi realizado em parte, pelo que podemos esperar muito do futuro. Segundo Freud, será Psicanálise todo o tratamento psicológico que parta de dois fenómenos inconscientes: transferência e resistência. Pode dizer-se que, como adeptos da Psicanálise Relacional, continuamos a manter os mesmos objectivos, mas o nosso conceito do que é transferência e resistência, ou, inclusivamente, do que é inconsciente, é, essencialmente, diferente de como era nas origens da Psicanálise. Já não são considerados fenómenos psicológicos individuais, pelo que há que considerá-los como fenómenos de grupo, criados no grupo familiar ou no grupo formado por terapeuta e paciente, contribuindo cada um com a sua parte para a transferência e para a resistência, criando um novo inconsciente grupal em cada nova situação.
3. Qual a característica mais relevante que um Psicanalista/Psicoterapeuta deve ter para permitir a criação de um espaço de transformação numa relação terapêutica?
Basicamente estar receptivo à escuta, coisa com a qual Freud estaria de acordo, mas com a certeza de que o outro pode ter razão – como diria Gadamer – na apreciação de si mesmo, da sua realidade e da nossa enquanto terapeutas. O terapeuta relacional tem de estar atento ao que sente em cada momento, que parte do que está a acontecer é trazida por si próprio e como pode dar a conhecer ao paciente essas descobertas e receber o que ele ou ela transmite. A partir daí, devemos oferecer todas as nossas observações como tentativas de aproximação, que podem ser erróneas, e aceitar de forma sincera quando tenhamos cometido um erro, pedir desculpa e tratar de saber o que o provocou. Todo este trabalho tem mais a ver com os sentimentos do que com os conhecimentos racionais.
Filipa Canêlo
Gonçalo Neves
[Entrevista realizada por e-mail]