Michael Eigen
Michael Eigen, psicanalista norte-americano de 77 anos, é considerado um dos mais criativos e produtivos psicanalistas contemporâneos. É Senior Member da National Psychological Association for Psychoanalysis; supervisiona e ensina na Universidade de Nova York, nomeadamente no Post Doctoral Program in Psychotherapy and Psychoanalysis onde orienta, entre outros, seminários sobre Bion, Winnicott e Lacan; conta com 23 livros publicados pela Karnac Books (1) e dezenas de artigos publicados em diversas revistas (2).
Eigen entrelaça uma área diferente de interesse e investigação com a psicanálise, acontece ser a área de interesse de Eigen a fé, o misticismo, a religião e o sagrado, e Freud, em “O Futuro de uma Ilusão”, ter marcado o ritmo da visão psicanalítica da religião, uma neurose obsessiva da Humanidade, colocando a psicanálise como “anti-mistica”. Eigen não se convence da linha de pensamento que aí se inaugura e vai revisitar a fé, o religioso e o sagrado dentro da teoria e da prática psicanalítica. Fá-lo principalmente a partir do início dos anos 80 no artigo “The Area of Faith in Winnicott, Lacan and Bion”.
Neste caminho diz-nos há algo de sagrado na prática psicanalítica, e vai enquadrar essa experiência, de um sentimento místico relacionado com a morte, a vida, o tudo, o nada, o infinito, Deus, nas obras de Winnicott, Bion e Lacan. Conceitos como destruição, transitional experiencing, uso do objeto, real/imaginário/simbólico e fé em O, são convocados para pensar a fé e a experiência mística. Aparece como importante o conceito de experiência ou estado numinoso, correspondente a um estado da alma, onde a ideia de Deus se torna evidente.
Mais preocupado com a experiência e com o processo do que com a definição, Eigen, navega pela sua sólida cultura psicanalítica procurando descrever e teorizar criativamente sobre a experiência mística e fundamentar a sua fé em que a fé é fundadora da vida e da esperança. Fá-lo numa contextualização teórica de orientação para a afetividade da subjetividade humana, interação e intersubjetividade.
A fé e o místicismo de Eigen, diz-se próximo de várias religiões em diferentes momentos da sua vida, e a sua fenomenologia afetiva, nas palavras de Kerry Gordon, carimbam a sua leitura teórico/clinica e constituem-no como uma verdadeira singularidade psicanalítica, não repetindo, recria. Lendo Eigen, salta à vista, e ao sentir, a sua presença naquilo que escreve, e onde muitas vezes se descreve, de certa forma descomplexado, assume-se, envolvente, por vezes poético. E mais que a subtileza do discurso ou a complexidade teórica/clínica verdadeiramente questionante e seguramente questionável, intui-se e guarda-se, uma certa sensibilidade honesta, autêntica, isso é cativante, genuíno, local onde se pode crescer e aprender.
(1) Obras de Eiguen por ano de publicação: Coming Through the Whirlwind (1992); The Psychoanalytic Mystic (1998); Toxic Nourishment (1999); Damaged Bonds (2001); Ecstasy (2001); Rage (2002); The Sensitive Self (2004); The Electrified Tightrope (2004); The Psychotic Core (2004); Psychic Deadness (2004); Emotional Storm (2005); Lust (2006); Feeling Matters (2006); Conversations with Michael Eigen (2007); Flames from the Unconscious: Trauma, Madness, and Faith (2009); Eigen in Seoul: Volume 1: Madness and Murder (2010); Eigen in Seoul: Volume 2: Faith and Transformation (2011); Contact with the Depths (2011); Kabbalah and Psychoanalysis (2012); Reshaping the Self: Reflections on Renewal Through Therapy (2013); Faith (2014); The Birth of Experience (2014); A Felt Sense: More Explorations of Psychoanalysis and Kabbalah (2014)
(2) Destaca-se The Area of Faith in Winnicott, Lacan and Bion, International Journal of Psycho-Analysis, January 1, 1981, Vol. 62.
Hélder Chambel